Monday, August 13, 2007

Agarra-me esta noite

Vermelha, ou sofrimento, a mancha abraça o calhau, movediça como o vento, agreste como essa nau, desliza neste momento. Aguarda a água do mar ajudada pela maré, depois de muito penar pretende banhar-se da fé que um dia não soube guardar. Calhau duro e teimoso; Jovem? Ou principiante, que, deveras desgostoso, desiste ao primeiro instante em tom cerimonioso? Tão intensa esta espera como quem lê um soneto. No branco da atmosfera vê as marcas do esqueleto da pegada que trouxera... Na marcha da maresia, num compasso sem maestro, numa estrofe sem poesia, numa escrita de ambidextro, sinto os sons da agonia. Sinto o peso do calhau e de todo o desconforto, sem abrigo ou chão de pau que acolha um pé morto de esperar a tua nau.Mulher dura e egoísta, sedenta do verbo ter, que desrespeita o artista e a vontade de viver numa harmonia prevista. De tanta espera me canso, pois não há eternidade que acalme o balanço dessa tal ansiedade. Assim, neste mar, me lanço. Levo "A Valsa do Adeus", outra obra do Kundera, a fronha dos olhos meus, a herdeira de quem gera e protegida de Deus. Agarra-me esta noite. Amanhã já será tarde pois, depois de tanto açoite, no meu peito já não arde a paixão que me afoite. É, pois, a marca do tinto no calhau espalhada por quem era tão faminto pela tua madrugada e, agora, nada sinto. Levantei-me dessa base quando vi que era ferro e passei para outra fase que chamava o meu berro, na qual não há quem se case. Onde estão as tuas flores? Caiem secas, na varanda, como caem os amores submersos a quem manda sem respeito aos odores. Pode ser que ressuscitem, as flores que não cuidei. Elas talvez se agitem ao dizeres: "aqui del Rei!" E em "formatura" fiquem. Fujo de novo convénio ao qual ganhei crispação. Não é preciso ser génio para saber dizer: não! Afinal, outro milénio!
De: Pássaro Distante

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